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sexta-feira, junho 30, 2006

A escola e empresa

Ao extinguir as antigas Escolas Comerciais e Industriais, abriu-se uma lacuna irreparável no ensino intermédio.

António Gaspar in DE

“Todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo”.
Cora Coralina, Entrevista à Folha de S. Paulo, em 26/9/1982


A questão do ensino em Portugal, há muitos anos que se vem debatendo sem que, aparentemente, se tenham encontrado as soluções por todos (Escola, Estado e Empresas) desejadas.

Quando abordamos o tema, surgem-nos vários níveis e sob uma multiplicidade de ângulos. Quando me refiro à Escola estou a referenciar a Instituição, isto é, desde o ensino preparatório, passando pelo secundário e terminando, por fim, no universitário.

Todo o sistema de ensino, ao longo da cadeia dos seus variados níveis, deve contribuir para formar e preparar os jovens para uma integração perfeita no mundo do trabalho, nunca perdendo de vista que competências são desejadas pelas empresas. Sem ter em conta permanentemente ao longo de todo o ciclo de ensino, as efectivas necessidades das empresas, o mesmo não só não contribuirá para ajudar a criar riqueza, como acaba por distorcer o modelo que a nossa economia necessita.

De todas as reformas levadas a efeito nas últimas duas décadas a nível do ensino secundário, tenho que referenciar um erro monumental. Ao extinguir as antigas Escolas Comerciais e Industriais, abriu-se uma lacuna irreparável no ensino intermédio. Estes estabelecimentos de ensino, preparavam excelentes profissionais com um grau de ensino secundário, mas virado exclusivamente para a profissão. Electricistas, mecânicos, técnicos de administração e contabilidade, técnicos de vendas e muitas outras profissões saíam destas Escolas. Eram cursos mistos, isto é, possuíam uma vertente teórica e uma vertente prática muito acentuada; conseguiam transmitir importantes conhecimentos técnicos relativamente à profissão escolhida, acompanhados com uma formação académica adequada.

O surgimento do ensino superior politécnico não veio substituir o anterior, viria complementar, caso o anterior ainda existisse e ambos beneficiariam, no sentido de quem quisesse aprofundar conhecimentos encontraria no politécnico a fonte do seu crescimento profissional. Mas, para prejuízo de todos (profissionais e empresas) nada disso aconteceu.

A situação do universitário que se vem registando, nada tem acrescentado às solicitações que o meio empresarial (de forma cada vez mais exigente) vem colocando em termos de competências, aos seus colaboradores. A Universidade tem de perceber de uma vez por todas que está a formar alunos para o mercado de trabalho e não para o desemprego. Se por um lado, a taxa de desemprego que temos neste momento se configura como um obstáculo à colocação dos recém-licenciados no mercado de trabalho após terminarem o seu curso, mais difícil será se as competências que a Universidade lhe transmitiu não encontrarem eco nas necessidades reais das empresas. Quem dirige as Universidades tem que perceber definitivamente que terão que ser elas a ir junto das empresas e das várias associações representativas dos serviços e da indústria, saber o que efectivamente necessitam; que perfis de profissionais desejam para fazer crescer as suas empresas e desta forma criar uma maior riqueza para o país. A Academia não se pode virar para dentro de si própria; não pode ignorar o que as empresas necessitam e essa inventariação não se faz a partir duma cadeira situada num qualquer gabinete. Faz-se no terreno. Faz-se com visitas e reuniões nas instituições anteriormente referidas. Procura-se saber directamente o que os nossos empresários necessitam e depois que sejam adaptados os programas com conteúdos de acordo com as necessidades da economia real. É este passo que a Universidade tem que dar e quanto mais depressa se decidir, menor será a perda, pois há muito que deveria ser dado. Só uma falta de visão empresarial pode justificar esta situação. Mas existe remédio – contratar quem o saiba fazer!

O mundo está num processo de mudança há vários anos e todos os agentes se têm que adaptar às constantes alterações nas solicitações que lhe são colocadas. A Academia não foge a esta realidade. O difícil não é manterem-se. O difícil é saberem adaptar-se à mudança. Quem se adaptar às mudanças terá o caminho aberto para o sucesso; e neste caso, o seu sucesso contribui decididamente para o sucesso de terceiros - alunos e empresas.

De que se está então à espera? Portugal e os portugueses não podem esperar mais!

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